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EXISTE VIDA DEPOIS DO EURO! 

Um milagre econômico para o sul da Europa e o Mediterrâneo! 

Por Helga Zepp-LaRouche 

Todos nós – cada nação da Europa, com os seus cidadãos – agora enfrenta uma dupla crise existencial: O sistema euro, e o sistema trans-Atlântico inteiro, estão em processo de total desintegração, que poderá ser postergado por apenas algumas semanas mais, por meio de injeções hiper-inflacionárias de liquidez. Esse é o resultado do sistema falido do Império Britânico, que também, sob as bases da assim chamada Doutrina Blair, agora ameaça nos arrastar para uma confrontação termonuclear com Rússia e China.

Uma solução existe. Essa solução, no entanto, é absolutamente impossível dentro do nosso atual sistema. A falência inequívoca do sistema de globalização, e da atual economia de cassino, deve ser substituída por um sistema de crédito orientado exclusivamente para investimentos futuros na economia real, com altas densidades de fluxo energético. Re-atingir a soberania nacional é o pré-requisito absoluto tanto para a recuperação econômica quanto para a preservação da paz. Nós precisamos imediatamente estabelecer os dois níveis do sistema bancário na tradição de Franklin D. Roosevelt, com um sistema de créditos na tradição de Alexander Hamilton e da era de FDR, a Corporação de Recuperação Financeira, e nós devemos retornar às moedas nacionais, com taxas fixas de troca, e um programa de reconstrução econômica para o sul da Europa, a região do Mediterrâneo, e o continente africano. 

O Euro Criou Um Monstro 

Podemos muito bem parafrasear o título de Francisco de Goya em sua famosa gravura para descrever a atual política da União Européia: “O sono da razão econômica produz monstros”. Para quem pode haver ainda alguma dúvida de que o euro foi uma experiência fracassada? A situação na Grécia, Espanha, Portugal, Itália, e também nos estados dos Balcãs, é, de fato, horrível, e continua a custar muitas vidas humanas. Esse não é um fracasso dos cidadãos desses países; antes, são falhas da política européia de união de moedas, e das políticas monetárias da UE e dos governos europeus, os quais, especialmente depois da eclosão da crise financeira em julho de 2007, tem simplesmente continuado com a política de favorecer especuladores e banqueiros, contra os interesses do Bem Comum.

A zona do euro, desde seu nascimento, não foi uma “zona ótima de circulação de moeda”. Deve estar bem claro desde o início para todos com senso comum em economia, que Estados com estruturas econômicas tão divergentes, e línguas e culturas diversas, como Alemanha, Finlândia, Grécia e Portugal, não podem se desenvolver harmonicamente com uma simples união de moedas.

Como é bem conhecido, o euro não nasceu de considerações econômicas sólidas, mas, pelo contrário, da intenção geopolítica de vincular a Alemanha reunificada ao cinturão da UE, forçando-a a abandonar o marco alemão. O ex-assessor de François Mitterrand, Jacques Attali, mais tarde admitiu que era claro para todos os participantes daquele tempo, que uma união de moedas não iria funcionar sem união política, e que esse defeito de nascença do euro foi intencionalmente designado para forçar a Europa para uma união política posteriormente! É precisamente isso que estamos testemunhando agora, com os advogados da união tentando nesse momento, sob condições de crise extrema, introduzir títulos em euro como passo final para um Estado federativo da UE.

Os extensos poderes concedidos ao Mecanismo de Estabilidade Europeu – seu conselho de governo e diretoria irão gozar de uma longeva imunidade, sem nenhuma prestação de contas – poderão tornar esse Estado federal numa completa ditadura servindo aos interesses dos banqueiros da City de Londres. Isso irá garantir a bancarrota econômica e política da Europa, e o caos social.

Vinte anos após a assinatura do Tratado de Maastricht um monstro foi criado; e onze anos após a introdução do euro, várias nações da zona do euro estão em perigo de cair em condições africanas – colapso social, altas taxas de morte, infra-estrutura sem manutenção, a maioria das atividades econômicas paralisadas, um de cada dois ou três jovens desempregados, e trabalhadores qualificados deixando suas pátrias por não verem mais futuro nelas. O alegado boom das nações na eurozona menos desenvolvidas foi de fato uma bolha – e agora essa bolha estourou. Quando a inundação de turistas passou a minguar, e quando as pessoas não podiam mais se proporcionar segundas férias em casa, ficou claro que não houve nenhum aumento do bem estar social nesses países, e que continua a não existir infra-estrutura adequada e capacidade industrial. Grécia, por exemplo, não possuir sequer uma única ligação por trilhos com o resto da Europa, ou para a Ásia!

Mas até os cidadãos do país assim chamado aproveitador do euro, a Alemanha, foram deixados de mãos vazias. Durante esses 11 anos de euro, seu mercado doméstico encolheu, os investimentos reais declinaram, o poder de compra desabou, o sistema de saúde tem deteriorado consideravelmente, e a estrutura de empregos tem piorado em direção ao trabalho barato. Sua ostensiva posição especial como “campeã mundial de exportações” – a qual primeiramente beneficiou as 500 corporações DAX, e muito menos as pequenas e médias empresas – é um colapso bem compreendido, até o ponto em que os mercados exportadores tiverem secado.

As políticas da UE não asseguraram a paz na Europa, como os propagandistas da integração européia querem nos fazer acreditar; antes, a animosidade entre as nações nunca foi tão grande desde a Segunda Guerra Mundial. Ao invés de fomentar o Bem Comum e o senso de comunidade, a Lei da Selva está difundindo sua influência, com cada um tentando salvar sua própria pele. A continuação dessa política, seja através da brutal austeridade na tradição de Brüning[1], ou na forma de uma coletivização hiper-inflacionária do débito, representa alta traição contra a própria idéia de Europa na tradição humanista cristã. 

A Confrontação Estratégica Vem em Seguida 

A subjugação das nações européias ao diktat do Império Britânico não só significa contenda interna, isso também está levando a Europa inexoravelmente para uma confrontação estratégica com Rússia, China, e outras nações asiáticas. Ambos, o presidente russo Vladimir Putin e seu primeiro-ministro Dmitri Medvedev, têm deixado claro que a Rússia não aceitará o enfraquecimento do direito internacional, conforme estabelecido na Carta das Nações Unidas, e a política de violação da soberania nacional sob o pretexto de “intervenção humanitária” levará ao uso de armas nucleares.

A administração Obama adotou como dela própria a assim chamada Doutrina Blair, a qual clama que a era da Paz de Westfália acabou, e que “intervenções humanitárias” ao redor do mundo devem daqui em diante seguir o Império, obliterando o Estado nacional. O assim chamado Conselho de Preservação de Atrocidades da administração de Obama elaborou uma longa lista de Estados, incluindo Síria, Sudão, e muitos outros, que poderão ser marcados para uma intervenção militar.

Tony Blair, o autor das mentiras que levaram à Guerra do Iraque, ofereceu a si próprio a Obama para ser seu conselheiro escolhido para os próximos seis meses, e enquanto Blair estava nos Estados Unidos em maio, ele abertamente estabeleceu que, depois de ajudar Obama a ser reeleito, ele irá fazer outra tentativa para ocupar o cargo de Primeiro Ministro britânico. É claro o plano para controlar o mundo nas bases das “relações especiais” anglo-americanas. Portanto, nós temos o confronto de duas doutrinas opostas e irreconciliáveis: a Doutrina Blair do mundo como um império, onde as nações soberanas não mais existem, e a Doutrina Putin, baseada na defesa do direito internacional e na defesa da soberania nacional.

A sobreposição da Doutrina Blair – de acordo com a qual as intervenções da OTAN contra “Estados perigosos” são possíveis em qualquer parte do mundo, mesmo que seus Estados-membros não sejam “diretamente afetados” – com a própria política da OTAN para com a UE, especialmente depois do Tratado de Lisboa em 2009, significa que todos os países na Europa irão cair numa potencial confrontação com a Rússia, China, e outros Estados asiáticos, sem nunca terem sido consultados, e sem nenhum direito a veto.

O sucessivo processo de renúncia a soberania nacional para a ditadura supranacional de Bruxelas – um processo que tem sido maiormente escondido dos olhos públicos – nos levou para uma perigosa conjuntura. O estabelecimento político pró-europeu, em seu desejo de adesão, ficou tão acostumado em jogar fora sua soberania, que qualquer resistência contra essa política de intervenção imperial – como a recusa do ex-chanceler Gerhard Schröder de sancionar a Guerra do Iraque, e a recusa do Ministro do Exterior Guido Westerwelle de participar na guerra com a Líbia – tem sido continuamente erodida.

Num contexto algo diferente, fica claro na atitude de mutismo dos políticos europeus sobre a colocação de um sistema antimísseis norte-americano na Europa, que o governo russo descreveu como um potencial casus belli, não é mera “propaganda”, como alguns políticos tem irresponsavelmente assegurado.

A mesma tendência é evidente no novo conceito da OTAN de “Defesa Inteligente”, o qual foi apresentado pelo comandante das Forças Armadas britânicas, Gen. Sir David Richards, entre outros, num encontro recente da OTAN em Chicago. De acordo com este conceito, os 28 Estados-membros da OTAN devem renunciar a todos os direitos de soberania tanto em relação à implantação de suas próprias tropas no exterior como a requisição de material bélico. Richards anunciou também que outra conferência da OTAN, a acontecer em setembro, concluirá essa questão de total acesso da OTAN, sem nenhuma possibilidade de os governos nacionais ou parlamentos eleitos a bloquearem por veto. Richards é un Comandante da Ordem do Império Britânico (CBE, inicias em inglês) junto ao seu colega, CBE Hans Joachim Schellnhuber, assessor alemão do Conselho de Mudança Global (WGBU), condecorado pessoalmente pela rainha da Inglaterra pelos seus serviços ao Império.

O Ocidente, e boa parte do resto do mundo, são dominados por instituições do Império Britânico, pelo qual eu não quero dizer a Grã-Bretanha em si mesma, mas antes o quartel general londrino do sistema de globalização, isto é, o nexo entre os bancos centrais, bancos de investimentos, fundos de derivativos (hedge funds), sociedades gestoras de participações sociais (holding companies), empresas de seguros e resseguros, cujos principais objetivos são maximizar os lucros para uma classe parasita, e forçar uma gigantesca redistribuição de bens, de baixo para cima. E na prática, a UE, de Maastricht a Lisboa, não é nada mais do que uma expressão regional desse sistema.

Em razão desses dois assuntos – auto-interesse econômico e auto-interesse em segurança nacional – as precondições para as nações européias coexistirem dentro da UE não mais existem. Portanto, cada nação tem o direito, do ponto de vista do direito internacional, de sair dessa união.

Por outro lado, a auto-subjugação sob o regime de globalização do Império Britânico, e sob a UE como sua expressão regional, assim como foi desenvolvido do Tratado de Maastricht a Lisboa, irá alcançar precisamente o oposto desse objetivo ostensivo de preservar a paz na Europa. Isso irá levar ao caos econômico e a guerra, e, logo, equivale à alta traição contra os povos da Europa. 

A Alternativa 

Os dois níveis de banco e sistema de crédito, e um milagre econômico para o sul da Europa e para a região do Mediterrâneo. 

Uma vez que tenhamos psicologicamente digerido o fato de que o atual sistema monetário transatlântico está fora de salvação –ou irá se desintegrar numa repentina reação em cadeia, ou irá destruir todos os ativos da Europa e dos Estados Unidos numa explosão hiper-inflacionária, como a ocorrida na Alemanha em 1923 – só assim nossas mentes estarão prontas para encarar soluções construtivas. Ao implementar um sistema bancário em dois níveis na tradição exata do padrão Glass-Steagall estabelecido por Franklin D. Roosevelt em 1933, os bancos comerciais poderão ser postos sob proteção estatal como um primeiro passo, enquanto todo o esquadrão de “instrumentos criativos financeiros” e contratos em derivativos deverão ser removidos dos livros de contabilidade. Uma moratória deve ser declarada em todas as dívidas estatais, e a porção de endividamento resultante do financiamento de todos os tipos de medidas de resgate, deverão também ser riscados dos livros.

Os tratados da UE, de Maastricht a Lisboa, devem ser cancelados, e a soberania nacional sobre a política monetária e econômica deve ser restabelecida. Competentes estudos de viabilidade para um “Plano B”, abrangendo preparações técnicas, e executando uma saída do euro, já foram preparados por especialistas como o Prof. Dirk Meyer do Colégio Federal Militar de Hamburgo. Um fim de semana prolongado pode ser utilizado como um feriado para preparar a conversão de moeda e para lidar com saldos de conta corrente e poupança em bancos. Os cidadãos alemães, estrangeiros residentes e firmas estrangeiras com ramificações na Alemanha podem ter seus depósitos em dinheiro marcados por tinta magnética. Controles de tempo limitado sobre transferências de capital e tráfico de fronteira podem prevenir os euros “não setorizados” de serem introduzidos, e procedimentos para produção de relatórios temporários de ativos podem ser adotados no interesse de preservar à ordem pública.

A saída do euro deve ser seguida da transferência da soberania monetária que estava sob as mãos da UE, de volta aos seus respectivos Estados nação; isso pode ser realizado por uma rápida resolução lavrada pelo Conselho Europeu. Uma nova lei nacional de moeda permitirá a legislação para a adoção dum novo marco alemão, e igualmente para outras respectivas moedas nacionais. O euro pode continuar a ser usado como uma unidade de contabilidade entre bancos nacionais, como foi feito anteriormente na Unidade Monetária Européia.

Nosso retorno às moedas nacionais pode na maioria dos casos ser simples, porque podemos fazer uso das experiências e dos procedimentos quando da introdução do euro. Os custos resultantes são relativamente baixos, comparados com o que pode acontecer com uma caótica desintegração da zona do euro. 

Exemplos Históricos da Utilização, ou da Não Utilização, do Sistema de Crédito 

Nos Estados Unidos, Roosevelt, com a ajuda de um pacote de medidas – a legislação Glass-Steagall, a Comissão Pécora, o New Deal, Corporação de Reconstrução Financeira, e a Autoridade do Vale do Tennessee – exitosamente tirou seu país da Depressão. Mas enquanto isso, como sabemos, a Alemanha seguiu a rota da política de austeridade de Brüning, junto a Hjalmar Schacht e Hitler. O governo alemão, contudo, aparentemente não aprendeu nada com esses vários exemplos, e a infame Troika – o BCE (Banco Central Europeo), CE (Comissão Europeia), e FMI – está impondo a mesma política que levou a Alemanha à catástrofe, só agora em toda a Europa.

Mas, mesmo naquela época, existiam críticas na Alemanha contra Brüning; e existiam também políticas econômicas paralelas àquelas propostas por Roosevelt. O russo Vladimir Woytinsky, de São Petersburgo, chefe do departamento de estatísticas da União Geral de Comércio alemão (ADGB), junto ao chefe da Associação de Trabalhadores de Madiera, Fritz Tarnow, e o porta-voz em política econômica do Partido Social Democrata, Fritz Baade, elaboraram um programa internacional para resolver a crise econômica mundial, a qual foi nomeada depois por seus autores, como o Plano WTB.

Woytinsky escreveu: “Todos estão sofrendo pelo fato de a economia mundial estar doente. Por essa razão, eles precisam concentrar seus esforços para articular uma ação de superação à crise global”. E mais adiante: “Os fundos que serão liberados pela política internacional de criação de crédito, devem ser usados para criar postos de trabalho, e para implementar um ambicioso programa de reconstrução da Europa”. Esse programa previa a criação de empregos produtivos para 1 milhão de desempregados, financiado por um empréstimo de 2 bilhões de marcos. Além do mais, créditos de longo prazo seriam emitidos com baixas taxas de juros e taxas de amortização contra títulos que poderiam ser resgatados no Reichskredit AG. O ADGB concordou com esse plano, por Otto Wels, na liderança dos SPDs, e pelos chamados especialistas em economia dos SPDs Hilferding, Naphtali e Bauer.

Como Woytinsky mais tarde escreveu em sua autobiografia: “Era como se eu estivesse vendo sob meus olhos como Brüning estava levando a Alemanha rumo a catástrofe. Mas ninguém deve ser demasiado duro com Brüning e seus erros. Suas falsas idéias eram compartilhadas por muitos de seus assessores tanto no seu próprio partido, quanto pelos social democratas. E se eles não tivessem apoiado sua política, ele provavelmente as teria abandonado”.

Em paralelo com o Plano WTB, Dr. Wilhelm Lautenbach, economista do Ministério da Economia alemão, apresentou um memorando baseado em princípios similares, intitulado “Possibilidades de Recuperação Econômica através de Investimentos e Expansão de Créditos”, o qual afirmava:

“O caminho natural para resolver uma emergência econômica e financeira é... não a contração, mas o incremento da produtividade”. Ele escreveu que é a “situação paradoxal” por onde, “apesar do extraordinário estrangulamento da produção, a demanda continua a ficar atrás da oferta, assim [dando origem] ao estrangulamento crescente de produção”. Sob essas condições de depressão, existe “excedentes de bens, instalações e equipamentos não utilizados, e força de trabalho não utilizada”. A exploração dessa forte, porém inutilizada área de potencial produtivo, ele escreveu, é “a verdadeira e mais urgente tarefa de política econômica, e a princípio, é relativamente simples de ser resolvida”.

O Estado deve “criar novas demandas econômicas, as quais, economicamente, representem um capital de investimento. Nessa conexão podemos pensar nessas tarefas como... obras públicas, ou obras sob patrocínio estatal, que irão significar economicamente um crescimento no valor dos ativos, que teriam que ser cumpridos de qualquer maneira uma vez que condições normais”  voltarem”– construção de estradas, melhoria e extensão de ferrovias, etc.

Lautenbach escreveu como conclusão: “com tais investimentos e políticas de crédito, o desequilíbrio entre a demanda de produção doméstica será removido, e assim, toda produção terá novamente uma direção e um objetivo. Se nós renunciarmos a essa política positiva, iremos inevitavelmente rumo a um subseqüente colapso econômico e à ruína total da economia nacional – uma situação com a qual, a fim de evitar uma catástrofe econômica, forçaria um novo e grande endividamento público de curto prazo para fins puramente de consumo – enquanto que, hoje, nós ainda temos a opção de utilizar esse crédito para projetos tão produtivos que podem trazer tanto a economia quanto nossas finanças públicas de volta ao equilíbrio”.

Lautenbach também destacou que nesse momento ainda não tão avançado, a criação de crédito pode ser dirigida em direção de investimentos produtivos, enquanto que mais tarde, tería que ser utilizado para financiar o desemprego.

Se o Plano WTB ou o Plano Lautenbach fosse adotado em 1931, as condições sociais que fizeram o golpe de Hitler possível dois anos depois poderiam nunca ter existido. Hoje nós sabemos como a catástrofe prevista por Woytinsky parecia, e ou podemos nos precipitar em uma catástrofe muito pior, ou então nós podemos escolher seguir os passos de Roosevelt.

O Sistema de Crédito 

Em 1923, os alemães tiveram que aprender com uma experiência amarga que o dinheiro não tem um valor intrínseco. Dentro de poucos meses, eles viram o trabalho de uma vida inteira jogado fora, ainda que, nominalmente, eles eram bilionários, até trilionários. Hoje, na era da multiplicação eletrônica de dinheiro, securitização, e contratos em derivativos, a natureza evanescente da maioria do nosso dinheiro é ainda mais óbvia. O estouro de várias bolhas no novo mercado, o mercado secundário de hipotecas nos Estados Unidos, Lehmann Brothers e AIG, e a iminente falência de um sem número de bancos que estavam há muito tempo de barriga para cima, se não tiressem recibidos “pacotes de resgate”. Em todos esses casos, as perdas foram de dinheiro virtual, e assim elas são, de fato, perdas imaginárias. Algo que realmente você nunca teve, e para o qual só existe um valor virtual, você realmente não está perdendo.

O sistema monetário atual acumulou tal volume gigantesco desses instrumentos de dívida na forma de contratos de derivativos em aberto, securitizações, etc., que qualquer tentativa de honrar essas dívidas passadas levará invariavelmente à hiper-inflação. A única diferença entre hoje em día, e a República alemã de Weimar, é que agora não estamos lidando com apenas um país, mas com a região Trans-Atlântica inteira.

O sistema de crédito que irá substituir esse falido sistema monetário é baseado em princípios completamente diferentes. O dinheiro per se tem a função de pagar transações, porém, muito mais importante, é o crédito que o banco nacional de um Estado soberano irá emitir tendo em vista futura produção. O objetivo dessa emissão de crédito é construir a economia real, criar o pleno emprego, e incrementar a produtividade da força de trabalho inteira, por meio de uma missão científica e de pesquisas fundamentais. Isso é a aplicação do princípio de economia física, tal como foi desenvolvida por Leibniz, List, Carey, Witte, chegando a Lyndon LaRouche.

A emissão de créditos é direcionada para a produção futura – um valor real, no qual a habilidade produtiva humana, matérias-primas refinadas, e capacidade industrial, criam uma mais-valia que aumenta em conjunto com o nível científico e tecnológico onde essa produção tem lugar. Cada país deve também criar um banco nacional na tradição do primeiro Secretário do Tesouro norte-americano, Alexander Hamilton. Esse banco deve abrir linhas de crédito para financiar projetos bem definidos, como NAWAPA (North American Water and Power Alliance), a construção de um túnel sob o estreito de Bering, um programa de reconstrução para o sul da Europa, a Passagem africana, Transaqua, e assim em diante (veja artigos relacionados). Via bancos comerciais regionais e locais, esses créditos serão emitidos para as firmas participantes desses projetos, e elas, por seu lado, contratarão fornecedores eempregarão trabalhadores, os quais, por sua vez, gastarão seus salários em itens normalmente requeridos para a sustentação de seu padrão de vida.

E assim, acima e além do estímulo à produção resultante diretamente dos projetos, haverá um reavivamento secundário da economia como um todo. Dado o grande escopo dos projetos acima mencionados e similares, a completa e duradoura produção de empregos será alcançada, enquanto ao mesmo tempo, o espectro de empregos será deslocado para fora do setor de serviços e para dentro de trabalhos produtivos na indústria, pesquisa e agricultura.

Os exemplos históricos em que casos como esses, de criação de crédito produtivo, têm sido aplicados, demonstram que os benefícios colhidos pela recuperação econômica em geral, junto ao aumento concomitante de receitas fiscais, irão superar de longe o volume dos créditos emitidos originalmente. Ao contrario da criação de dinheiro para saldar a dívida antiga do sistema monetarista, a emisão de créditos da maneira aquí delineada, terá um efecto anti-inflacionario, porque o ênfase no progresso científico e tecnologico, aumentará a produtividade. 

“Para as Futuras Gerações” 

No entanto, estamos falando aqui de grandes projetos que irão beneficiar a vida de várias gerações de seres humanos que estão por vir. Para essas pessoas que estão no mercado mundial de ações, que preferem mais se saciar na dança hedonística ao redor do Bezerro de Ouro, pode parecer um pensamento surpreendente, mas, de fato, o propósito subjacente de uma economia é garantir a sobrevivência de longo prazo da espécie humana em um nível que se eleve de geração a geração. O propósito do sistema de crédito é pegar a prosperidade criada pelas gerações passadas e “passá-la adiante, ampliada e enriquecida, para as gerações futuras”, como Friedrich Schiller definiu o significado da história universal.

A humanidade não é somente outra espécie animal que se reproduz no mesmo nível de desenvolvimento no curso dos séculos e milênios: antes, o homem é a única espécie com capacidade para a criação, isto é, a capacidade para desenvolver seus próprios recursos naturais para níveis ainda mais altos de organização. Com nossa criatividade, nós podemos criar algo que supera nossa própria expectativa de vida: nós investimos em algo que irá beneficiar as gerações futuras, algo que irá permitir-lhes um grau de liberdade material e espiritual que estenda bem longe do que nós, como iniciantes, teremos alcançado durante as nossas próprias vidas.

A idéia do sistema de crédito não é, por isso, uma simples melhoria técnica em nosso sistema bancário; antes, é a harmonização do lado financeiro de nossa economia, com a existência contínua da humanidade em muitas gerações futuras. Portanto, isso têm, se você desejar, uma dimensão espiritual. O sistema de crédito é assim o instrumento que irá nos ajudar a ultrapassar os valores criados por uma geração, e enriquecida por nós, adiante para as gerações seguintes. No intuito de deixar claro que o sistema de crédito deve ser pensado como um conceito humano, o qual coloca a humanidade no verdadeiro centro da economia, deixe-me citar a frase conclusiva do ensaio de Friedrich Schiller: “O que é, e para que fim, nós estudamos a História Universal?”.

“Deve arder dentro de nós um desejo nobre de tomar o rico legado da verdade, moralidade, e liberdade que herdamos de nossos antepassados, e passar isso adiante, ricamente aumentado, para o mundo futuro, e também dar uma contribuição de nós mesmos, e firmemente ligar nossa própria efêmera existência à cadeia eterna que se estende através de todas as gerações humanas. Tão diversamente quanto os futuros modos de vida o esperarão na sociedade, todos podem colaborar com algo em relação a isso! Toda ação meritória abre um caminho para a eternidade – para a imortalidade verdadeira, eu digo, onde as boas obras vivem e se movem ao longo desse caminho, mesmo que seu nome original tenha sido deixado para trás”.

A crise da civilização que está nos mergulhando dentro do colapso do sistema financeiro trans-Atlântico, tem de ser clara até para a pessoa mais cabeça-dura entre nós, que devemos levar nossos assuntos políticos e econômicos à harmonia com o ordenamento do universo físico – se, assim, podermos evitar o destino que levou à extinção as antigas espécies. O universo, contudo, não é um sistema fechado, com um “orçamento que precisa ser equilibrado”, mas, antes, ele é desenvolvido de maneira anti-entrópica, criativa, no qual a densidade do fluxo de energia e a complexidade das estruturas organizacionais são sempre crescentes. E é mais que tempo de adaptar a economia humana a essas leis básicas do universo.

A tarefa concreta do sistema de crédito na reconstrução do sul da Europa, da região do Mediterrâneo e África, decorre diretamente dessa tarefa universal. De um lado, um sistema bancário nacional em que cada Estado participante deve financiar projetos como os das seções seguintes desse informe, pela criação das requeridas linhas de crédito. Ao mesmo tempo, tratados de cooperação de longo curso devem ser concluídos entre Estados soberanos para gozar de trabalhos em projetos internacionais que ultrapassem as fronteiras nacionais, como a extensão dos corredores de transporte da Ponte-Terrestre Euro-Asiática em direção ao Oriente Médio, e, através de pontes e túneis, chegar a Europa e África.

Se nós abandonarmos a idéia de lucros rápidos, e, ao invés, nos dedicarmos à tarefa de eliminar as lamentáveis condições de subdesenvolvimento, por meio de um programa de reconstrução que irá formar a base principal para a expansão da infra-estrutura e para o estímulo econômico, assim, saindo da crise do colapso presente, junto a projetos tais como NAWAPA e a construção da Ponte-Terrestre Mundial, poderemos começar o maior milagre econômico da história humana. Uma nova era da humanidade poderá se iniciar.


[1] Heinrich Brüning foi Chanceler da Alemanha (1930-32), durante a República de Weimar. Sua imposição de austeridade selvagem é creditada em parte à ascensão de Hitler ao poder em 1933 – Ed.

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